O atendimento psiquiátrico em idosos durante a pandemia da COVID-19

A fase idosa é uma época muito difícil da vida humana. Essa idade requer muitos cuidados e atenção por parte da família. Em não raros casos, a pessoa idosa desenvolve depressão. A doença atinge cerca de 15% dos idosos e percebê-la pode ser um verdadeiro desafio para a família, que muitas vezes, costuma confundir os sintomas com ‘coisas da idade’.

Entretanto, quando o idoso começa a se queixar repetidamente de dores físicas, ter alterações no sono ou no apetite, reclamar de problemas de memória e perder o prazer em coisas que antes eram interessantes, surge um sinal de alerta e é hora de procurar um psiquiatra.

Para falar sobre esse assunto e também sobre o atendimento psiquiátrico a idosos, convidamos o psiquiatra e hipnoterapeuta Vicente Gomes, coordenador da pós-graduação em Psiquiatria do Instituto GPI. Confira a entrevista:

Dra. Vicente Gomes Coordenador da Pós-Graduação em Psiquiatria do Instituto GPI

MANTER A AUTONOMIA E A DIGNIDADE DOS PACIENTES GERIÁTRICOS TEM SIDO UM DOS MAIORES DESAFIOS DO SETOR DA SAÚDE, PRINCIPALMENTE NO MUNDO PANDÊMICO QUE A GENTE AINDA VIVE. TEM SIDO UM GRANDE DESAFIO?

Certamente, é um desafio que a gente vem enfrentando, manter aquele idoso com autonomia manter aquele idoso bem, fazendo as suas atividades do seu dia a dia, aproveitando ali a sua rotina, claro que dentro das suas limitações, mas realmente tem sido um desafio principalmente com essa pandemia, onde teve toda uma mudança na rotina, adaptação do dia a dia desse idoso que evitou de fazer algumas atividades, de ter contato com outras pessoas, de fazer atividade física em determinado local, isso realmente acabou comprometendo bastante a vida principalmente dessa faixa etária.

SERIA A DEPRESSÃO UM DOS PROBLEMAS PSIQUIÁTRICOS MAIS COMUNS ENTRE OS IDOSOS?

Essas doenças crônicas que você mencionou que realmente são comuns no idoso, a pressão alta, que é a hipertensão arterial, o diabetes, isso pode realmente favorecer algum tipo de comprometimento no idoso. Comprometimento vascular, principalmente, e isso pode ter uma repercussão mesmo cerebral.

Então a gente tem dois tipos de situações que são comuns nessa faixa etária, que é exatamente a depressão e também a demência, coisa que às vezes até se confunde em alguns casos, porque há alguns sintomas que são parecidos e às vezes há a possibilidade daquele idoso se acometido, ao mesmo tempo, por um quadro depressivo e também por um processo demencial. A gente sabe que essas doenças crônicas são sim fatores de risco para esse tipo de situação.

COMO DEVE SER ESSA PROCURA, CASO TENHA UM IDOSO NA FAMÍLIA, QUE EU NOTE QUE ESTÁ PASSANDO POR UM PROBLEMA QUE ESTÁ TENDENDO A SER ALGO PSIQUIÁTRICO, COMO DEVE SER ESSA ABORDAGEM COM O PSIQUIATRA E COM O IDOSO TAMBÉM PARA COMEÇAR A FAZER ESSE TRATAMENTO

O idoso ele vai começar a apresentar alterações de comportamento que muitas vezes isso também, principalmente nessa faixa etária, são queixas físicas importantes. Importante a gente deixar claro, esclarecer para quem nos assiste, que a depressão ela não é apenas aquela situação de uma tristeza intensa, de choro, de isolamento, de angústia. A depressão pode vir de várias formas e no idoso é muito comum queixas físicas como o idoso reclamar que está muito tonto, que está com dor de cabeça, que está esquecido.

Isso, como mencionei anteriormente é até às vezes uma confusão diagnóstica no sentido de achar, às vezes, que é uma demência, quando o idoso está dizendo que está começando a falar que está esquecido demais, que não lembra mais de nada, que tá sem força, que está sem coragem e de repente já se pensa já em processo demencial, quando na realidade se deve sim afastar um quadro depressivo.

Então é importante que a família converse com esse idoso, fale sobre algumas limitações, que são normais da idade, e que tem essa necessidade de se fazer uma avaliação pra poder ajudá-lo. As pessoas pensam que é porque está envelhecendo, que não tem que lembrar mais de nada, que não tem que fazer mais nada, não! Não é isso, a gente vai tendo algumas limitações, mas ninguém fica sem fazer nada, a memória não é pra ficar completamente ruim a ponto da pessoa perder a sua autonomia, fazer a sua atividade diária, não.

Então é exatamente isso, a família deve dialogar com aquele idoso e falar da necessidade, sim, de um acompanhamento, e que é importante nessa idade, que pode ser feita por um psiquiatra, por um neurologista, por um geriatra e um psicogeriatra, que é exatamente aí o especialista na saúde mental do idoso, que consegue manejar bem esses quadros, esses remédios, que são muito utilizados nessa faixa etária.

NA HORA DA ANAMNESE, IMAGINO QUE A PSIQUIATRIA GERIÁTRICA REQUEIRA UM TEMPO MAIOR DE CONSULTA. É UMA ANAMNESE BEM MAIS DEMORADA, BEM MAIS COMPLETA E MINUSCIOSA, CERTO?

É isso mesmo, é importante que a gente tenha o cuidado de fazer essa avaliação minuciosa, saber realmente todo o histórico, precisa também ter um conhecimento da parte física mesmo, porque inicialmente a gente deve afastar, por mais que às vezes seja algum tipo de queixa voltada à mente, mas a gente deve obrigatoriamente afastar algum quadro clínico. É muito comum acontecer, por exemplo, de o idoso apresentar uma certa confusão mental, uma certa agitação ou uma certa lentificação psicomotora.

Ele fica lento, não reage muito bem aos estímulos, ele fica muito na dele e as pessoas podem achar que aquilo é uma depressão, algum problema, que tá surtando, quando na realidade o idoso é muito sensível a qualquer tipo de alteração física. Às vezes, a pressão do idoso pode subir, pode apresentar uma alteração de comportamento, às vezes ela pode baixar também. Pode ser uma desidratação, idoso não tem aquele hábito de estar bebendo, ingerindo líquido com tanta frequência, às vezes é uma infecção urinária que vai mexer com o funcionamento mental do idoso.

Isso a gente chama de delirium que é o estado confusional agudo, que é exatamente decorrente secundário de alguma alteração clínica orgânica, ou seja, a gente avalia isso, resolve aquele quadro clínico de base, depois volta a ter o seu funcionamento mental normal e não necessariamente aquele comportamento é uma doença psiquiátrica.

QUAIS AS DICAS QUE VOCÊ DÁ PARA QUE A GENTE POSSA ENVELHECER COM MAIS QUALIDADE DE VIDA

O ideal seria a gente atuar nessa prevenção para não ter que chegar lá na terceira idade já com algum tipo de problema. Então essa prevenção deve acontecer antes e aquilo que você faz, seus hábitos, seu estilo de vida, ele com certeza vai ter alguma relação ali com a sua manifestação de atividade, com seu desempenho, lá na frente. Então é importante a gente cuidar o mais cedo possível e ter uma vida onde a gente possa ter uma alimentação saudável, isso não quer dizer que a pessoa deve ficar a vida fazendo regime, regrando coisa, mas é importante que a gente consiga manter um momento de uma alimentação equilibrada, saudável, evitar o excesso de frituras, gorduras, o excesso de álcool, combater o tabagismo, que favorece vários problemas lá na frente, uma atividade física regular, isso também é fundamental pra gente atuar na prevenção de alguns quadros psiquiátricos lá na frente também.

Manter uma vida mais ativa, uma atividade, uma ocupação, trabalhando ali no seu dia a dia a mente, é praticar uma leitura, exercitar a mente, é você ter uma boa noite de sono, dormir bem, evitar alguns tipos de remédios que podem trazer prejuízos lá na frente. E é muito comum hoje, a população usa muito, o adulto, o jovem e é hoje utilizado em várias faixas etárias a questão do remedinho tarja preta. Eu vou falar aqui nome de substancia que é o diazepan, clonazepan, tô falando aqui nome de substâncias.

Esses tipos de medicamentos eles podem contribuir lá na frente para prejuízo de memória, para lentificação, além de levar à dependência. Então tem que ter cuidado também com alguns tipos de remédios que podem prejudicar e ser fator de risco para comprometer a saúde física e mental também.

Assista a entrevista na íntegra sobre O atendimento psiquiátrico em idosos durante a pandemia da COVID-19″ Por Nehemias Lima – Jornalista.

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