Transtornos mentais em tempos de pandemia: a saúde mental também merece atenção

Desde o início da pandemia, observou-se o aumento considerável de transtornos mentais

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que doenças e transtornos mentais afetam mais de 400 milhões pessoas em todo mundo. Já a Organização das Nações Unidas (ONU), alerta que entre 75% e 85% das vítimas desses males não tem acesso ao tratamento psicológico ou psiquiátrico a adequado. Só no Brasil, estima-se que 23 milhões de pessoas sofram de algum transtorno psicológico, moderado ou grave. Os transtornos mentais, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) identificam-se como doenças com manifestações psicológicas, associadas ao comprometimento funcional devido a perturbações biológicas, sociais, psicológicas, genéticas, físicas ou químicas.

Eles podem ocasionar modificações no modo de pensar ou até mesmo no humor, provocando alterações no desempenho global do indivíduo, isto é, no âmbito pessoal,

social, ocupacional ou familiar.

Quando falamos em depressão, ansiedade, insônia, fadiga, irritabilidade, disfunção de memória e de concentração e muitas outras doenças semelhantes, estamos falando de transtornos de saúde mental. E o assunto deve ser discutido o máximo possível. Um dos conceitos associados a esse tema é o de psicopatologia que, de forma ampla, pode ser compreendida como um conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental

humano.

O psicopatólogo não julga ou avalia moralmente seu objeto de estudo conforme uma linha de pensamento psicológico, apenas busca observar e compreender elementos que caracteriza a disfunção como uma patologia. Nossa equipe conversou sobre transtornos mentais, psicopatologia, e os efeitos da pandemia na saúde mental com o psiquiatra José Brasileiro, um dos excelentes professores da pós-graduação em Psiquiatria do Instituto GPI.

VAMOS COMEÇAR FALANDO DE SAÚDE MENTAL. QUE TEMPOS DIFÍCEIS ESTAMOS VIVENDO, NÉ? COMO ESTÃO OS CASOS DE TRANSTORNOS MENTAIS DURANTE A PANDEMIA?

De fato, estamos vivendo tempos difíceis desde o ano passado e as perspectivas em relação a saúde mental que a pandemia trouxe com os transtornos mentais vigentes ou decorrentes da pandemia, mostraram para a gente que temos que cuidar e prevenir em relação ao coronavírus, sem dúvidas, mas que também devemos ter atenção à saúde mental, que nesses tempos tem apresentado uma piora, falando, especificamente, da nossa população brasileira, por exemplo.

QUAIS SÃO EXATAMENTE OS TIPOS MAIS COMUNS DE TRANSTORNO

MENTAL? QUAIS AS SUAS CARACTERÍSTICAS?

De uma forma geral, os transtornos mentais mais comuns são as síndromes ansiosas, dentre elas o estresse, a estafa e o Burnout, que não é considerado transtorno mental, mas uma condição vinculada ao trabalho excessivo.

Com a pandemia, percebemos a exacerbação de alguns outros transtornos, além da ansiedade que tem aumentado consideravelmente, a sobrecarga dos profissionais de saúde também, sobretudo do ponto de vista mental.

Tivemos também o aumento do transtorno de estresse pós-traumático, pois essa pandemia tem trago às pessoas quadros de revivescências, principalmente relacionados à perda de pessoas próximas, entre outros transtornos importantes.

O MEDO DE SE CONTAMINAR COM A DOENÇA TAMBÉM É CONSIDERÁVEL ENTRE AS PESSOAS?

Sim. Percebemos, inclusive, o aumento de transtornos obsessivos compulsivos, que não necessariamente estejam vinculados a quadros de TOC, mas são sintomas reativos obsessivos compulsivos. Até mesmo pessoas que tinham patologias pré-instaladas, como o TOC, pioraram destes quadros por causa da preocupação excessiva, medo da infecção, da contaminação e das compulsões decorrentes disso.

ISSO SÓ REFORÇA O TAMANHO DA IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E TRATAMENTO DE SAÚDE MENTAL, PRINCIPALMENTE EM TEMPOS COMO ESSE QUE ESTAMOS VIVENDO ATUALMENTE.

Exato, o impacto das mortes tem mexido com a cabeça das pessoas e elas têm deprimido mais, ficam presas em casa, muitas vezes sem uma rotina, sem o preparo devido, ocasionando uma intensidade de adoecimento, uma preocupação excessiva com o futuro também, por exemplo. Isso tem feito com que as pessoas precisem de acompanhamento psiquiátrico. São realmente tempos difíceis e é uma situação muito impactante.

E PENSAR QUE HOUVE TEMPOS EM QUE AS PESSOAS TINHAM TABUS COM ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO E PSIQUIÁTRICO, CERTO? AINDA PERSISTEM ESSES TABUS?

Conforme os anos foram passando, o estigma sobre a psiquiatria foi diminuindo. Ele ainda existe, mas diariamente, a gente “trata” desse estigma, mostrando nosso trabalho, exemplificando, e isso acaba sendo um trabalho de formiguinha. Aos poucos, vamos desmistificando.

Esse estigma muitas vezes está inserido num processo de cultura que somos formados e inseridos, mas obviamente, neste contexto pandêmico, por força da necessidade, as pessoas acabam adoecendo e buscando auxílio psiquiátrico muitas vezes até para poder sair de casa. Então, a pandemia gerou essa implosão.

Os consultórios psiquiátricos começaram a lotar, de fato, principalmente come esses transtornos de estresse pós-traumático, sintomas obsessivos compulsivos, ansiedade generalizada, TOC, etc. Houve casos, inclusive de pessoas que chegaram a um quadro psicótico reativo bem grave a ponto de atearem fogo no próprio corpo, por acharem que estavam com Covid e tiveram que realizar cirurgia plástica, inclusive, para reconstruir algumas partes do corpo.

EM UM CONCEITO AMPLO, A PSICOPATOLOGIA PODE SER COMPREENDIDA COMO UM CONJUNTO DE CONHECIMENTOS REFERENTES AO ADOECIMENTO MENTAL HUMANO? É ISSO?

Explicar a psicopatologia é algo complexo, mas ela é uma ciência que estuda as expressões que alteram o comportamento a ponto de torná-lo adoecido. Então são fenômenos, expressões de adoecimento que conseguimos identificar como algo fora do padrão de normalidade, a partir da nossa avaliação.

Fazendo uma analogia, equivale a um exame físico na clínica médica. Tal qual um sopro cardíaco na clínica médica, é uma alucinação na psicopatia. Na clínica, utilizamos quatro técnicas usadas no exame físico, que vão exigir do profissional o uso de quatro dos seus cinco sentidos: visão, tato, audição e olfato. Essas técnicas são divididas em inspeção (visão e olfato), ausculta (audição), palpação (tato) e percussão (tato e audição).

Na saúde mental, utilizamos a expressão, usando os elementos visuais e observando os relatos dos indivíduos. Dessa forma, a partir dessa demonstração, descrevemos a alteração, entendemos como ela ocorre e fazemos o link com uma alteração patológica.

COMO ESSES TEMAS, ASSIM COMO OUTROS ASSUNTOS DA PSIQUIATRIA, TÊM SIDO TRABALHADOS NA NOSSA PÓS-GRADUAÇÃO EM PSIQUIATRIA NO GPI?

A psicopatologia estará presente em todos os transtornos, pois não há como emitir diagnósticos e ter condutas terapêuticas sem entender a psicopatologia daquele transtorno.

O nosso último módulo, por exemplo, foi bem conceitual, onde a proposta foi exemplificar conceitos, enumerar, mostrar, definir e compreender para que sejam aplicados nos próximos módulos.

Nos próximos módulos, como os de transtornos psicóticos, humor, psicogeriatria, psiquiatria da infância e adolescência, esses conceitos serão repetidos, compactuados de forma mais direta.

PARA FINALIZAR, EM TEMPOS AINDA PANDÊMICOS, QUAL SEU RECADO PARA A SOCIEDADE EM GERAL?

Se cuidem! Cuidem da sua saúde física e mental. A prevenção, inclusive em saúde mental, ainda é o melhor remédio para tudo.

No vídeo abaixo, assista a entrevista na íntegra sobre a “Saúde estética segue em crescimento no Brasil” Por Nehemias Lima – Jornalista

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