O setor de Urinálises é responsável pela realização de exames de urina no laboratório clínico, utilizando essa amostra como principal material biológico. Embora também utilizem a urina em dosagens bioquímicas, os profissionais concentram seu uso principalmente no setor de urinálises, conhecido como uroanálises. Ademais, os exames mais comuns realizados pelos analistas clínicos nesse setor envolvem tanto a análise dos sedimentos urinários quanto a avaliação dos aspectos físicos e químicos da amostra.
O exame conhecido como EAS ou Elementos Anormais do Sedimento Urinário é o clássico Exame de Urina. Além dele, o setor de urinálises realiza outras análises, como dosagens de creatinina de 24 horas e exames para cultura deste material biológico
Um dos tópicos mais discutidos no controle de qualidade do setor de urinálises é a redução de erros no pré-análise. Esses erros representam mais de 70% de todas as falhas na rotina laboratorial.
A Importância da Fase Pré-Analítica no Controle de Qualidade em Urinálises
A fase pré-analítica inclui o cadastro do paciente e a coleta da amostra. Em seguida, os profissionais identificam e transportam a amostra para o setor adequado, onde a triam, processam e analisam. Dessa forma, todos os processos que antecedem a análise da amostra se enquadram na fase pré-analítica do setor de urinálises.
Dentro desse contexto, a coleta e recepção de amostras possuem uma importância ímpar no que se refere à qualidade dos resultados produzidos pelos exames de rotina. Neste artigo, serão discutidos alguns critérios que interferem na qualidade de uma amostra biológica e sua capacidade de gerar bons resultados. Por isso, se a amostra for inadequada, o laboratório precisará rejeitá-la e solicitar uma nova coleta. A seguir, veja os principais critérios de rejeição de amostras para as análises clínicas.
É importante destacar que os parâmetros a seguir também se aplicam a outros setores de análise, como Microbiologia, Biologia Molecular e Imunologia, todos seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a American Association for Clinical Chemistry (AACC).
1 – Falta de identificação em tubos e frascos coletores
O setor de análises clínicas recebe amostras biológicas de diversas origens e características. No entanto, há um fator comum a todas elas: a identificação. O processo de identificação de amostras é uma parte essencial e indispensável da fase pré-analítica, e está diretamente relacionado com prováveis erros de análise que possam vir a ocorrer.
Além de ser obrigatória, os profissionais devem sempre conferir a identificação das amostras no ato da entrega e do repasse para o setor de análise. Idealmente, elas devem ser cadastradas em um sistema único do estabelecimento e conferidas com a documentação oficial do paciente. A maneira correta de fazer essa identificação também é crucial: evitar abreviações e sempre posicionar as etiquetas conforme as recomendações dos frascos. Por exemplo, muitos frascos pedem uma identificação lateral, enquanto outros exigem identificações tanto nas laterais quanto nas tampas.
2 – Amostras que ultrapassam ou desrespeitam o tempo de coleta
Um clássico. Amostras biológicas, por serem basicamente matéria orgânica, sofrem muitas interferências do meio externo após a sua separação do organismo. Fatores como temperatura, umidade, agitação, acondicionamento e a ação de microrganismos decompositores como bactérias podem interferir na estabilidade do analito.
Os laboratórios devem analisar amostras biológicas de urina ou fezes obrigatoriamente em um período que não exceda 2h após a coleta. Isso se deve aos microorganismos presentes nessas amostras, que interferem em suas características físico-químicas e microbiológicas, tornando inviável um processo de análise eficiente em urinálises.
Os técnicos devem analisar amostras de sangue destinadas a dosagens bioquímicas dentro de um tempo máximo estabelecido para evitar o decaimento de substâncias importantes, como a glicose ou alguns íons, que podem se deteriorar com o tempo.
3 – Amostras com contaminação visível
Em muitos casos, especialmente nos setores de urinálises e parasitologia, é comum encontrar nas amostras elementos como pelos, terra ou até pedaços de instrumentos de coleta, como pás ou swabs descartáveis. Para garantir a confiabilidade dos resultados, é fundamental manter as características da amostra biológica preservadas ao máximo até o momento da análise.
4 – Amostras com volume/quantidade insuficiente para análise
Exames laboratoriais, mesmo que façam uso de microlitros de material biológico, requerem uma quantidade de amostra que permita ao analista um trabalho tranquilo. Em alguns casos de coleta realizada de forma inadequada, muitas amostras acabam tendo um volume insuficiente para análise coletados, impossibilitando eventuais repetições ou confirmações de resultados. É essencial coletar as amostras em quantidades suficientes para realizar o exame sem interferir na conduta do analista clínico. Esse tópico vale para qualquer setor de um laboratório de análises clínicas, incluindo urinálises.
5 – Amostras coletadas fora de padrões estabelecidos pelo laboratório
Muitos exames exigem critérios específicos que se aplicam às amostras biológicas e às suas modalidades de coleta. Por exemplo, um critério clássico no ambiente laboratorial é o jejum necessário para a realização de certos exames, como as dosagens bioquímicas de glicose e lipídeos. Além disso, é importante considerar outros fatores, como a prática de exercícios físicos. Também deve-se informar, no momento do cadastramento, se o paciente está utilizando medicamentos para alguma disfunção fisiológica ou se encontra sob terapia antimicrobiana. A falta de identificação adequada das amostras tende a gerar resultados que não condizem com a realidade do paciente.
6 – Amostras coletadas em recipientes inadequados
Isso é um problema comum. Há diversos relatos de amostras entregues aos postos de recebimento em recipientes, no mínimo, extravagantes. Os profissionais coletam as amostras biológicas em recipientes limpos, estéreis e seguros, garantindo o transporte e o acondicionamento adequados do material. Além disso, é essencial que os frascos sejam de fácil acesso para o analista e de rápida identificação para o setor de recebimento.
Laboratórios em todo o mundo fornecem instruções claras sobre como coletar amostras biológicas em casa, como urina ou fezes, e orientam sobre o acondicionamento adequado dessas amostras em recipientes apropriados para o transporte. Frascos de produtos industrializados ou vidrarias domésticas não garantem que a amostra está em boa qualidade para sua análise no setor de urinálises.
Por isso, vale ressaltar que esses critérios de rejeição de amostras, padronizados por órgãos importantes para a atividade laboratorial, devem ser rigorosamente seguidos.
Por Denilson de Araújo e Silva
Graduando em Biomedicina pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI
Pós-Graduando em Microbiologia Clínica pelo Faculdade GPI