Desvendando o Hemograma

Um dos exames mais solicitados na rotina de um laboratório de análises clínicas é sem dúvida o Hemograma. Há quem o classifique como o principal e mais completo exame laboratorial, pois sua capacidade de avaliar o quadro clínico de um paciente para diversas doenças e distúrbios é muito elevada. Basicamente, o Hemograma constitui como uma análise completa dos elementos celulares do sangue, além da análise de fatores como teor de hemoglobina, volume celular e a forma que essas células se apresentam. Todos esses aspectos são essenciais na construção de uma linha de entendimento do hemograma, que permitirá ao médico uma leitura e interpretação adequada do exame, que reflete o quadro hematológico do paciente em questão.

De forma simplificada, o Hemograma pode ser dividido em 3 grandes seções, onde cada seção possui parâmetros específicos que revelam uma característica referente àquela seção do laudo. Confira a seguir um detalhamento de cada uma dessas seções que compõem o Hemograma.

Série Vermelha ou Eritrocitária

A série vermelha do hemograma corresponde à análise das hemácias e de todas as características hematológicas referentes à essa linhagem celular. Nessa seção avaliam-se parâmetros relacionados com a quantidade e a qualidade dos glóbulos vermelhos em circulação, bem como a relação disto com prováveis distúrbios de hipo ou hiperproliferação, que podem causar distúrbios como a Policitemia ou as Anemias.

Quantidade de Hemácias é um parâmetro de avaliação numérica da quantidade de eritrócitos presentes em um mm³ de sangue.

Hematócrito: O hematócrito é um parâmetro que indica a proporção de células em todo o conteúdo sanguíneo. Por exemplo, como o valor é dado em porcentagem, um hematócrito de 45% significa dizer que o paciente possui uma proporção de células sanguíneas que preenchem 45% do conteúdo total do sangue. É muito utilizado na avaliação de desidratação severa em pacientes que passaram por algum trauma, como a perda aguda de sangue.

Hemoglobina: Este parâmetro avalia, de uma forma geral, a concentração de hemoglobina presente em um dL de sangue. A hemoglobina é uma molécula metalo-proteíca capaz de se ligar ao oxigênio e transportá-lo para todos os tecidos do organismo. Essa substância está presente no interior da hemácia e sua composição leva átomos de Fe2+ que dão a coloração vermelha ao sangue. Está diretamente ligada com quadros clínicos de anemia, pois o principal parâmetro analisado para a identificação do quadro anêmico é justamente a redução dos níveis séricos de hemoglobina.

Índices Hemantimátricos: Os índices hemantimétricos são taxas que trazem para o analista clínico a interpretação acerca do aproveitamento da hemoglobina e do processo de maturação de hemácias, através de três parâmetros que são:

HCM: Hemoglobina Corpuscular Média. É a taxa que evidencia o peso de hemoglobina presente nas hemácias, estando relacionado com hemácias hipocrômicas quando apresenta valores muito baixos. A hipercromia pode estar relacionada à outros fatores que não sejam alterações no organismo.

VCM: Volume Corpuscular Médio. É a taxa que evidencia o volume médio das hemácias presentes naquela amostra, estando relacionada com a presença de hemácias pequenas, com pouco conteúdo interno e processos de maturação insuficiente (microcitose) ou hemácias grandes, com muito conteúdo interno, porém imaturas e disfuncionais (macrocitose).

CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. É a taxa que evidencia a concentração média de hemoglobina presente em cada hemácia daquela amostra. Está também relacionada com fatores como pigmentação e tamanho de hemácias.

RDW: O RDW é um parâmetro indicativo de alterações entre populações de hemácias que possam apresentar tamanhos diferentes. Quando há presença de muitas hemácias com medidas discrepantes, o RDW tende a aumentar, evidenciando a dupla população. Esse processo é conhecido como anisocitose.

Forma das Hemácias: A forma que se apresentam as hemácias durante a análise morfológica de lâminas pode dizer muito acerca do estado de saúde e do histórico de um paciente. Várias são as possibilidades de apresentação das hemácias, resultantes de alterações na permeabilidade da célula ou da maturação da mesma. Quando há uma população de células com formatos alterados dá-se o nome de poiquilocitose.

Série Branca ou Leucocitária

A série branca sanguínea corresponde à fração do sangue responsável pela defesa imunológica do organismo. É composta por células nucleadas, divididas em dois grupos: Células Granulares e Células Agranulares. O primeiro grupo corresponde a células como neutrófilos, eosinófilos, mastócitos e basófilos, enquanto o segundo grupo é composto por células como os monócitos e os linfócitos. Essas células podem ser analisadas por critérios numéricos e morfológicos em lâminas de esfregaço.

Análise Quantitativa – Contagem Global de Leucócitos: Procedimento realizado por automação ou manualmente com o auxílio de uma Câmara de Neubauer, onde é realizada uma contagem geral de todos os glóbulos brancos encontrados na alíquota pesquisada e estima-se a quantidade de células de defesa por mm³ de sangue. Com esse valor, é possível analisar e identificar alterações absolutas na proporção de leucócitos no sangue, como em casos de Leucopenia (diminuição) e Leucocitose (aumento).

Análise Quantitativa – Contagem Específica ou Diferencial: Nesta etapa, procedida em lâmina de esfregaço corado, realiza-se uma leitura para identificação de 100 células leucocitárias presentes no esfregaço sanguíneo. Essas células são discriminadas e quantificadas de acordo com sua linhagem, dando ao analista a possibilidade de inferir uma proporção para essas células em valores relativos (células/mm³) e absolutos (%).

Análise Morfológica – Contagem Específica ou Diferencial: A linhagem e as alterações morfológicas apresentadas em células brancas podem ser indicativos de processos alérgicos, infecciosos ou podem revelar defeitos proliferativos condizentes com quadros malignos. Essa avaliação requer muito cuidado e a forma de laudo deve ser padronizada, porém clara e direta. As células observadas nessa fase são Neutrófilos, Basófilos, Eosinófilos, Macrófagos, Linfócitos e Blastos.

Série Plaquetária ou Plaquetograma

A série plaquetária é um importante indicador do equilíbrio hemostático do organismo, sendo sua análise responsável por quantificar e avaliar morfologicamente as unidades celulares de coagulação conhecidas como plaquetas, que são pequenos fragmentos celulares oriundos do megacariócito. Plaquetas em grande quantidade ou com formação grumosa ou de agrupamentos pode ser presuntivo de processos de formação de coágulos no organismo, conhecido como Trombocitose, enquanto a diminuição desses elementos no sangue pode indicar a ocorrência de hemorragias internas em decorrência da Trombopenia. Os termos Plaquetose e Plaquetopenia também são aplicáveis.

Portanto, vale ressaltar a importância do hemograma como um exame complexo, porém abrangente, capaz de investigar e identificar diversos quadros patológicos. O profissional hematologista é responsável pela realização de um hemograma de qualidade e capaz de promover ao paciente e à equipe médica a melhor forma de encaminhamento terapêutico, quando necessário.

Por Denilson de Araújo e Silva

Graduando em Biomedicina pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI

Pós-Graduando em Microbiologia Clínica pelo Instituto GPI

COMPARTILHE ESSE POST:

WhatsApp
Facebook
Twitter
Telegram
LinkedIn

Conheça algumas Pós-graduações disponíveis no GPI:

Hematologia Laboratorial

Citologia Clínica

Psiquiatria

Medicina do Trabalho