Alterações morfológicas em neutrófilos: o que é importante observar?

As células do sangue possuem diversas funções e especialidades distintas, atuando em processos de oxigenação, formação de coágulos e defesa imunológica do organismo contra agentes infecciosos. Nesta última categoria destacam-se os neutrófilos, as células pioneiras no que diz respeito à resposta imune inata do organismo. Neutrófilos são as primeiras células a atuarem no processo de defesa imunológica, elevando rapidamente seus números quando há necessidade de ação celular rápida e inespecífica. São muito eficazes no combate de infecções bacterianas e estão presentes também em processos inflamatórios.

Leucócitos são classificados como células de defesa da linhagem mielóide, granulares e com núcleo multilobulado. Enquanto jovens, apresentam granulações grosseiras e núcleos pouco lobulados e durante seu desenvolvimento vão apresentando lobulações nucleares que dão a característica da célula.

No Hemograma, várias são as evidências de que processos inflamatórios, infecciosos ou problemas medulares estão ocorrendo. Os neutrófilos podem apresentar alterações morfológicas significativas, que podem ser presuntivas de processos anormais ocorrendo no organismo do paciente. Acompanhe abaixo as principais alterações morfológicas que podem ser apresentadas por esta linhagem imunológica e quais as prováveis causas destes achados.

1 – Granulações Tóxicas

Granulações tóxicas é como se denomina a observação de grânulos densos no citoplasma celular de neutrófilos observados no sangue periférico. Esses grânulos são o resultado de um defeito no processo de maturação de células neutrofílicas, ocorrendo a permanência de material azurófilo no citoplasma de células maduras. Este processo também pode ocorrer devido à endocitose de agentes tóxicos, como bactérias. Quando se observa granulação tóxica em uma lâmina de esfregaço sanguíneo pode-se inferir que algum agente imunogênico induziu a medula a liberar células imaturas para a circulação. Essas células tornam-se maturas com a ação em processos infecciosos, mas mantém suas granulações como resultado desta interrupção no processo natural de maturação celular. Vale ressaltar que são clinicamente relevantes quando apresentam leucocitose com neutrofilia, indicando que há liberação intensa dessas células na corrente sanguínea.

2 – Desvio à Esquerda

Enquanto imaturos, neutrófilos podem apresentar núcleos bastonados, sem nenhuma lobulação. Isto pode ocorrer, como nos casos acima, após a liberação de células imaturas pela medula ou de forma natural em números pequenos. Quando muitos leucócitos bastonados (bastões) estão presentes na corrente sanguínea periférica pode-se dizer que há um desvio à esquerda, quando esses bastões ultrapassam 10% dos neutrófilos contados. As principais interpretações deste achado estão relacionadas ao estímulo da medula óssea em produzir células neutrofílicas com maior intensidadeapós agentes microbiológicos e patogênicos esgotarem os estoques de neutrófilos circulantes, como por exemplo em casos de sepse ou intensa infecção bacteriana.

3 – Vacuolizações citoplasmáticas

Processos de fagocitose são presentes em diversas linhagens celulares, como por exemplo em monócitos. Leucócitos também podem fagocitar agentes estranhos e utilizar seus grânulos para a neutralização dos mesmos. Os achados que comprovem vacúolos em citoplasma de neutrófilo são indicativos de sepse, e devem ser levados em consideração na construção do laudo e comunicação com a equipe médica. Os neutrófilos fagocitam

principalmente bactérias, e uma vez nos tecidos, não voltam mais ao sangue periférico, o que nos faz concluir que os vacúolos em neutrófilos são reflexos de uma fagocitose no próprio sangue periférico, ou seja, sepse. Além disso, vacúolos citoplasmáticos podem ser presuntivos de células em idade avançada, pois já estão ativas no sangue há um tempo considerado. Esta característica pode ser corroborada com o próximo achado.

4 – Neutrófilos Hipersegmentados

Segundo o Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ), achados que indiquem neutrófilos com mais de 6 lobos ou mais de 3% dos neutrófilos com lobulação acima de 5 devem ser classificados como hipersegmentação neutrofílica. Enquanto jovens, neutrófilos passam de bastonetes para células segmentadas pois é uma característica da célula que lhe confere as características imunológicas próprias. Com o passar do tempo, após intensa

atividade imunológica dessa linhagem celular, vários lobos são formados, que também são indicativos de células em idade avançada. Geralmente estes achados estão relacionados com falhas no processo de produção e maturação celular de células da linhagem mielóide, como neurófilos, podendo estar associada à erros genéticos ou à deficiência de fatores de produção como a vitamina B12 e o Folato. Neste caso, a medula encontra-se impossibilitada de produzir mitoses que promovem a maturação celular e a liberação de células viáveis na corrente sanguínea. É um achado presente em patologias como a Síndrome Mielodisplásica ou com pacientes em procedimentos quimioterápicos.

Portanto, vale ressaltar que o profissional hematologista deve estar atento à pequenas e significativas alterações morfológicas que podem estar presentes visivelmente no esfregaço sanguíneo. Processos de automação costumam enviar sinais de alerta para o hematologista, que prontamente deve buscar em lâmina ou na análise de gráficos possíveis alterações morfológicas. Além de neutrófilos, outras linhagens celulares também podem apresentar alterações morfológicas, como os linfócitos. É papel do profissional de laboratório interpretar e passar para a equipe médica resultados e orientações confiáveis. Além das alterações em número, a correlação com alterações numéricas também é algo que deve ser realizado, tendo em vista que em alguns casos, alterações morfológicas estão acompanhadas por elevações ou diminuições nos números de células circulantes.

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Por Denilson de Araújo e Silva

Graduando em Biomedicina pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI

Pós-Graduando em Microbiologia Clínica pelo Instituto GPI

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