O setor de Hematologia Clínica de um laboratório é o responsável pela liberação de exames voltados para o diagnóstico de alterações hematológicas através do hemograma e outros exames que envolvem o sangue. Neste setor é imprescindível que atuem profissionais capacitados, treinados e atualizados para metodologias diagnósticas que auxiliem uma rotina de um setor que é extremamente dinâmico, principalmente em laboratórios de médio e grande porte, onde a quantidade de amostras recebidas diariamente é enorme.
A automação laboratorial veio como uma ferramenta bastante eficaz que permite ao profissional analista clínico uma visão mais panorâmica do quadro clínico de seus pacientes. Aparelhos de hematologia de ponta trabalham com um sistema denominado de citometria de fluxo, onde uma quantidade de amostra é lida por um scanner que segrega células de acordo com seu tamanho, granulação ou quantidade de núcleos, ou seja, segrega células com características semelhantes em grupos que podem ser quantificados e qualificados.
Este tipo de procedimento entrega ao analista clínico gráficos variados acerca do perfil hematológico de cada uma das amostras que foram processadas. Um dos principais gráficos produzidos por este tipo de aparelho é o gráfico diferencial de leucócitos, que é capaz de demonstrar o comportamento e a quantificação de células dessa linhagem presentes no sangue. O gráfico é composto por diferentes setores que serão detalhados nas seções à seguir:
1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS
O gráfico diferencial de leucócitos é um produto da análise de aparelhos de hematologia por citometria de fluxo, que forma nuvens de células de acordo com características como tamanho e complexidade celular. Por complexidade celular pode-se entender a presença de granulações citoplasmáticas, pigmentações que possam aparecer no citoplasma ou até mesmo a multilobulação de núcleos como apresentado por neutrófilos e eosinófilos.
Vale ressaltar que a partir destas características, pode-se ter interpretações do panorama hematológico do paciente, sendo possível identificar pelo gráfico diversas alterações significativas e que podem ser cruciais para que vidas sejam salvas.
Com a passagem de células pelo scanner da citometria de fluxo, são formados pontos no gráfico. Cada ponto é correspondente à uma célula e o aglomerado de células forma a nuvem que aparece segregada no gráfico. Este agrupamento pode auxiliar na identificação, classificação e interpretação de células e do resultado, sendo de extrema utilidade para o analista clínico. Confira abaixo quais são as principais características apresentadas pelo gráfico diferencial de leucócitos.
2 – ROXO: LINFÓCITOS
A primeira nuvem da esquerda para a direita corresponde à nuvem de linfócitos. Vale ressaltar que as cores utilizadas nesta matéria têm caráter unicamente lúdico. Nesta nuvem se pode observar células de tamanho médio a elevado, com pouca complexidade celular, haja vista que uma grande parte dos linfócitos possuem um citoplasma mínimo e um núcleo que ocupa um grande espaço dentro da unidade. Quando se observa uma elevação dessa nuvem, dependendo de outros parâmetros do hemograma, pode ser observada uma elevação na quantidade de linfócitos circulantes ou até mesmo um aumento de material citoplasmático, revelando a presença de possíveis linfócitos reativos e consequentemente um processo de ação imunológica contra agentes biológicos, como em um processo infeccioso viral.
Quando existe uma disfunção proliferativa de medula óssea ocorrendo, o gráfico pode apresentar deformidades e sobreposição de nuvens, levando o profissional hematologista a concluir seu diagnóstico com base da observação de lâminas de esfregaço sanguíneo corado.
3 – VERDE: MONÓCITOS
O segundo aglomerado é formado por células monocíticas, conhecidas por pertencerem ao Sistema Fagocitário Mononuclear (SFM) do organismo. São células grandes e de complexidade média em relação ao seu citoplasma, por isso são localizados mais centralmente ao gráfico. Quando processos infecciosos estão ocorrendo no organismo, os monócitos são sinalizados logo após a chegada dos neutrófilos para que possam realizar a fagocitose e a eliminação de agentes patológicos, como bactérias. Em alguns casos, podem apresentar um tipo de migração para dentro de tecidos, onde se especializam em células de defesa mais avançadas, dependendo da localização onde estão atuando. Quando se observa um aumento da nuvem de células pode-se inferir em uma monocitose, porém algumas distorções da nuvem podem ser presuntivas de vacuolização citoplasmática ou de especialização de monócitos.
4 – AZUL: NEUTRÓFILOS
A nuvem correspondente à linhagem de neutrófilos corresponde àquela de tamanho celular pequeno a médio e de complexidade moderada a alta. Sabe-se que neutrófilos são os primeiros agentes celulares da imunidade inata à chegarem no local da infecção e são responsáveis pelo primeiro combate à agentes infecciosos e pela sinalização química que permite a convocação de outras células para o local de ação. São células granulares que podem ou não apresentar grumos grosseiros, conhecidos como granulações tóxicas e que provocam uma distorção da nuvem para o lado direito do gráfico. Processos infecciosos podem aumentar o número de neutrófilos circulantes no sangue e podem aumentar o tamanho da nuvem. Além disso, em casos de sepse a medula é estimulada a liberar neutrófilos imaturos, com citoplasma mais granular e núcleo não segmentado, conhecidos como bastões, que podem ser observados com aumento do tamanho celular e deformidade da nuvem. Este fenômeno é conhecido como desvio à esquerda e tem importância clínica imprescindível para a equipe médica, caso sejam pacientes em situação crítica ou em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
5 – VERMELHO: EOSINÓFILOS
A nuvem correspondente aos eosinófilos possui um volume menor já que a quantidade de eosinófilos circulantes no sangue tende a ser menor que outras linhagens celulares, como monócitos e linfócitos. São células grandes e complexas, por isso ocupam uma posição mais a direita do gráfico, já que seus grânulos são bem destacados e seu citoplasma possui uma pigmentação eosinofílica marcante. Em processos infecciosos desencadeados pela entrada e proliferação de parasitas e fungos há um aumento considerável na quantidade de eosinófilos circulantes no sangue periférico, além de uma migração dos mesmos para o sítio de ação do parasita. Aumentos no tamanho da nuvem podem ser observados nessas situações, haja vista a intensa liberação de células de defesa para combater organismos invasores.
O profissional de hematologia tem como função observar as alterações presentes em todos os dados formados pelos aparelhos de automação laboratorial, de forma integrativa e auxiliando a equipe médica na tomada de decisões que garantem a melhor estratégia de manejo de pacientes.
Por Denilson de Araújo e Silva
Graduando em Biomedicina pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI
Pós-Graduando em Microbiologia Clínica pelo Instituto GPI