Fungo Negro: Entenda o por que a saúde pública está sob alerta

Em Maio de 2021, enquanto a pandemia se mantinha com um elevado número de mortos em todo o mundo, ao passo que a vacinação se desenvolvia de forma lenta em alguns países, outros patógenos começaram a chamar a atenção das autoridades sanitárias em todo o mundo. Vivemos em um planeta globalizado, onde as relações entre os seres humanos se fazem muito mais corriqueiras e facilitadas, seja pelo ambiente virtual, capaz de unir pessoas de várias partes do mundo, seja através dos diversos meios de transporte e translado de pessoas de continentes a continentes. Muitos microrganismos tem origem através das condições de saúde e ambientais de determinados países e acabam se espalhando para outras regiões graças à esta facilidade na locomoção de seres humanos, animais e mercadorias, levando, como no caso do SARS-COV 2, ao surgimento de doenças incomuns, com alta capacidade de transmissão, que rapidamente se espalham pelo planeta causando colapso nos principais sistemas de saúde do mundo.

O microrganismo em questão, que tem sido alvo de muita divulgação, seja pela mídia ou pelas autoridades sanitárias e de saúde, é conhecido como Fungo Negro. Causador de uma infecção fúngica denominada Murcomicose, essa infecção teve sua origem observada na Índia nos últimos meses, agravada pela pandemia causada pela COVID-19 e afetando pacientes imunodeprimidos, totalizando mais de 9 mil casos em todo o país Indiano. Em Maio de 2021, casos suspeitos de infeção pelo Fungo Negro foram descritos em algumas capitais e cidades do interior de alguns estados brasileiros. Nesta matéria, vamos entender por que o Fungo Negro e a infecção causada por ele deixaram a mídia e as autoridades sanitárias em alerta.

Em indivíduos saudáveis, imunocompetentes, o fungo dificilmente consegue estabelecer o processo infeccioso, sendo no máximo, uma infecção assintomática e curta. Entretanto, relatos apontam que mais de 50% dos indivíduos imunocomprometidos – principalmente aqueles pacientes com COVID-19 que se encontram muito debilitados em decorrência do tratamento – acabam indo à óbito pela coinfecção que se instala. Os casos suspeitos no Brasil, até o presente momento, se encontram nos Estados de São Paulo, Paraná e Amazonas. Além da COVID-19, comorbidades severas como a diabetes, pacientes oncológicos, transplantados e em uso de medicação à base de corticóides também estão inclusos nos grupos considerados de risco para a murcomicose.

O Fungo Negro é um mofo fúngico (daí a derivação do nome murco, de mucoso, mofo, e micose, relacionado às infecções causadas por agentes fúngicos. É um fungo cosmopolita, característico de matéria orgânica em decomposição, por isso pode ser encontrado no solo, em frutas, vegetais e em ambientes velhos ou abandonados. Mesmo sendo um fungo relativamente comum no ambiente, ele dificilmente desencadeia um processo infeccioso sério, haja vista que a grande maioria da população possui uma capacidade imunológica capaz de barrar a infecção e a instalação do microrganismo no corpo humano.

Especialistas em epidemiologia garantem que o alarde que gira em torno do Fungo Negro não é, de fato, uma grande ameaça aos sistemas de saúde ao redor do mundo. Fungos sempre existiram entre os seres humanos, principalmente os fungos causadores da murcomicose, que também já circulavam no Brasil há muito tempo atrás. A real preocupação se dá com pacientes que possuam sérias comorbidades, como as supracitadas: diabetes descompensada, pacientes que realizaram transplante de medula óssea ou pacientes em tratamentos com corticóides, que suprimem as reações de inflamação do organismo. Na ìndia, a grande problemática não envolve apenas a infecção fúngica, mas também várias condições epidemio-sanitárias do país, que é um dos mais populosos do mundo, acumulam sérios problemas sanitários, possui um elevado número de diabéticos e seu clima combina aspectos extremamente favoráveis à transmissão e desenvolvimento de fungos: climas quentes e úmidos. Todos esses fatores combinados levam o sistema de saúde indiano a sofrer com o surgimento de infecções fúngicas em pacientes imunodeprimidos, elevando o número de casos fatais da infecção.

No Brasil, segundo especialistas, as chances de infecções graves surgirem com a mesma intensidade da COVID-19 é bem baixa, pois a realidade é diferente nos dois países. O Fungo Negro já existe no Brasil há algum tempo e nunca representou uma real risco à saúde pública, mas é essencial que as autoridades competentes mantenham a população informada e busquem identificar casos suspeitos com agilidade e precisão, para que se tracem estratégias de combate e contenção com o objetivo de fortalecer o sistema de saúde pública brasileiro.

Por Denilson de Araújo e Silva

Graduando em Biomedicina pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI

Pós-Graduando em Microbiologia Clínica pelo Instituto GPI

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