Hans Christian Joachim Gram desenvolveu em 1884 o método de coloração bacteriana amplamente utilizado nos dias atuais, conhecido como Coloração de Gram. O método permite diferenciar bactérias com diferentes estruturas de parede celular a partir das colorações que estas adquirem após tratamento com agentes químicos específicos. As bactérias que ficaram coradas de Violeta após os procedimentos, receberam o nome de Bactérias Gram Positivas, enquanto as que adquiriram coloração vermelha, foram chamadas de Bactérias Gram Negativas.
As bactérias gram positivas fazem parte de um grupo importante de microorganismos que são frequentemente encontrados em amostras biológicas humanas. Morfologicamente, tais bactérias podem se apresentar como cocos ou bacilos. Algumas espécies de bactérias Gram Positivas fazem parte da nossa microbiologia habitual, outras podem causar problemas a saúde.
As principais componentes do grupo de bactérias Gram + são as dos gêneros Bacillus, Clostridium, Actinomyces, Enterococcus, Gardnerella, Streptomyces, além dos conhecidos gêneros Streptococcus e Staphylococcus.
A coloração de Gram é um dos mais importantes métodos de coloração utilizados em laboratórios de microbiologia e de análises clínicas, sendo quase sempre o primeiro passo para a caracterização de amostras de bactérias. Mas, outros testes também são utilizados no estudo das bactérias, como por exemplo, as provas/testes bioquímicas.
Os testes bioquímicos são uma ferramenta amplamente utilizada na microbiologia para auxiliar na identificação bioquímica de bactérias. Essa classificação se dá pelas diferentes vias metabólicas de obtenção de energia e diferentes enzimas específicas usadas para degradar substratos utilizados pelos microorganismos como fonte de energia. Muitas vezes um determinado microrganismo possui um sistema enzimático específico, promovendo transformação bioquímica específica, logo, as provas bioquímicas são cruciais na prática clínica para a caracterização de muitas bactérias.
As principais provas bioquímicas, descritas a seguir, tem como objetivo principal a identificação de patógenos bacterianos através de características específicas de cada gênero e espécie. São testes extremamente confiáveis e de fácil execução e baixo custo na maioria dos casos. O papel do profissional microbiologista clínico é juntar as evidências oriundas da cultura bacteriana, das análises macroscópicas e microscópicas, além dos aspectos bioquímicos variados do agente pesquisado e, com o auxílio dos sinais clínicos do paciente, identificar de forma rápida e precisa o agente etiológico envolvido no quadro infeccioso, quando possível, o seu perfil de resistência aos antimicrobianos. Confira a seguir os principais testes bioquímicos utilizados na rotina laboratorial de microbiologia.
I – CATALASE
Conhecida por ser uma enzima capaz de decompor o peróxido de hidrogênio em água e gás oxigênio, a catalase pode ser produzida por diversos microrganismos, sendo uma das maneiras amplamente empregadas para a identificação do gênero Staphylococcus entre as bactérias gram positivas de bactérias do gênero Streptococcus, que são catalase negativa. Neste teste, adiciona-se uma quantidade de água oxigeneada em uma alíquota oriunda da cultura para que se observe a formação de bolhas, resultante da ação positiva da catalase.
II – PROVAS DE FERMENTAÇÃO
Determinados carboidratos são fermentados por alguns tipos de bactérias, originando diferentes produtos metabólicos finais, dependendo da bactéria envolvida. A reação química que ocorre nesses casos pode ser observada através da formação de bolhas em tubos de testes específicos, como o tubo de Durham, que também indicam a presença de ácidos orgânicos específicos através da mudança de cor dos indicadores químicos presentes no tubo.
Mesmo com uma reação negativa, o microrganismo pode ter utilizado outros nutrientes do meio de cultura do teste, como a peptona. Recomenda-se que se façam as leituras em até 24 horas, já que a incubação prolongada mascara o ácido produzido através da produção de substâncias alcalinas derivadas de outros substratos do meio.
III – COAGULASE
A coagulase verifica a capacidade de bactérias reagirem com o plasma e formarem um coágulo, uma vez que a coagulase, produzida pelo microrganismo é uma proteína com atividade semelhante à proteína protombrina, que é capaz de converter o fibrinogênio em fibrina, o que resulta na formação de um coágulo observável a olho nu.
A Prova Coagulase muito é indicada para separar as espécies de Staphylococcus de importância clínica, S. aureus – coagulase positiva, de suas demais espécies – coagulase negativa. Pode ser encontrada em duas formas: coagulase conjugada e coagulase livre.
Coagulase conjugada (em lâmina):
Mais utilizada na rotina laboratorial, é também conhecida como fator de aglutinação, encontrando-se unida à estrutura conhecida como parede celular bacteriana e não presente nos filtrados oriundos de cultivos. Quando células bacterianas são suspensas no plasma (com presença de fibrinogênio), espera-se a formação de cordões de fibrina entre elas, o que provoca o agrupamento sob a forma de grumos, que são visíveis.
Coagulase livre (em tubo):
Além de ser uma alternativa à prova em lâmina, é uma substância similar à trombina, presente em filtrados oriundos de cultivos. É secretada de forma extracelular, reagindo com uma substância encontrada no plasma, denominada Fator de Reação com a Coagulase, que forma um complexo que, por sua vez, deve reagir com fibrinogênio, formando a fibrina (em forma de coágulos). Quando uma suspensão em plasma da bactéria produtora de coagulase é feita em tubo de ensaio, espera-se observar a formação de um coágulo visível após um certo período de incubação.
Por Denilson de Araújo e Silva
Graduando em Biomedicina pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI
Pós-Graduando em Microbiologia Clínica pelo Instituto GPI